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domingo, 3 de março de 2013

A história de um suicida

" Percorri muitos caminhos para chegar té aqui, andei começando e desistindo em muitas portas e entradas, bastava que eu encontrasse um minúsculo obstáculo em minha caminhada para que logo desistisse do "continuar"... Mas o que era esse tal "continuar" se estamos sempre continuando? Querendo ou não, o continuar é um fato e não uma escolha. Em minha última encarnação eu desisti, jovem ainda, da minha vida. Matei-me o corpo material. Acreditei que fazendo isso acabaria com meus problemas, quando na verdade criei tantos outros. Conto hoje a história dessa vida que continuou mesmo após a morte.

Filho de rígida educação, cresci com bons estudos e boas oportunidades, geradas sempre pelos esforços de minha mãe e de meu pai. Construi uma carreira que seguia tantos os conceitos da época, quanto da sociedade e era considerado digno por bela família que formei. Tinha todas as possibilidades de felicidade: uma bela esposa, lindas filhas e uma ótima família que a tudo me apoiavam. Era querido por amigos, conhecidos e vizinhos... Conheci pessoas de boa índole assim como de má... Conheci os vícios, não possuía uma vida religiosa ativa, mal acreditava em Deus... mal acreditava em mim! Hoje relatarei minhas falhas com a consciência de alguém que busca pela reparação de erros... Demorei muito para entender que eu devia perdoar a mim mesmo, e não buscar o perdão dessas pessoas que acabei por abandonar pelo desencarne. Para meu espírito foi difícil a compreensão, embora hoje ela seja clara e eu consiga partir para rumos mais abrangentes de uma caminhada iluminada. Os vícios me levaram a lugares ruins, envolvi-me com pessoas de carácter sujo, pessoas que queriam sempre mais e faziam-me querer também sempre mais... Assim de uma vida basicamente satisfatória, passei para um entendimento errôneo do que é a felicidade e para mim a felicidade era ter mais tudo... mais dinheiro, mais bens, coisas caras e de valores... a família deveria me acompanhar nesse raciocínio da "felicidade perfeita", do conforto, do luxo, das alegrias desmedidas por ter e ter e ter... Mas minha esposa não via as coisas dessa forma, dizia-me que nossa família estava bem como estava, pelo pouco que tínha-mos ainda assim éramos felizes. Ao passo que eu pensava: Somos felizes? Nessa miséria? 
Eu saía, bebia, e esses pensamentos me perseguiam. Voltar para uma casa simples, ver a mesma mulher me esperando com os mesmos sermões e as mesmas ladaínhas... E assim começava a briga, e brigávamos. Eu quebrava coisas, ela ameaçava ir embora, eu bêbado não ligava, dizia que fosse...
Aqueles que se diziam amigos, sugeriam de fato a separação, mas eu amava demais aquela mulher para viver longe dela, mas como dar a ela todo o luxo que eu gostaria? As contas chegavam, o dinheiro era pouco, acabava por gastar boa parte nos bares com amigos, digo, os falsos amigos... 
Eu não via as contas, os problemas com meu superior, o fato de ter filhos pra sustentar, como sendo uma forma de aprendizagem, ou obstáculos a serem ultrapassados, ou mesmo sendo um desígnio traçado por mim mesmo para ser humilde e dar valor às coisas boas que a vida nos apresenta, por menor que sejam. Eu via simplesmente como sendo uma desgraça e ponto final.
Certa noite, chego eu após mais uma noitada com "amigos". Conversas de bar me deixaram deprimido, algo dizia que estava demais aquela situção... Eu deveria acabar com tudo aquela noite: Desisto... (eu pensei) 
Entrei no banheiro e como um suícida desencarnei. Eu acreditava de fato que o homem virava pó após a morte... Então estava eu lá, parado ao lado do meu corpo, minha esposa desesperada gritava pedindo ajuda, vizinhos ligavam para polícia, outros iam acudir... os meus pequenos anjos, pouca coisa entenderam naquela noite. Eu gritava dizendo que não havia morrido, eu estava ali, parado. Eu não virei pó, eu não virei luz como ouvi certa vez minha mãe contar e falar sobre espíritos (hoje percebo que a luz vem com a evolução e por ela que continuo, já que continuar é um fato, que seja para o bem). E o fato é que eu estava ali, ainda um homem... eu sabia que com tudo o que tinha acontecido, não tinha possibilidade nenhuma de eu ter sobrevivido, sabia que eu estava morto, eu estava vendo aquele corpo, jogado no chão, sangrando, sentia dores de revoltas com minhas atitudes. Olhei pro lado e vi um senhor, disse-me ser um amigo, eu confirmei minhas escassas dúvidas: Sim eu estava morto...
 Eu conhecia aquele homem, e quando pude de fato vê-lo enxerguei meu avô, falecido ainda quando eu era criança. Senti-me um ignorante, um fraco, um qualquer, diante de minha atitude, revoltei-me, como pude eu querer tantas riquezas quando na verdade eu podia sentir a dor de minha esposa vendo-me ali, sabendo que jamais veria-me novamente... Eu iria protegê-la, a partir daquele momento mais do que nunca... mas meu avô disse-me que agora não era mais tempo, eu já havia rompido o laço de existência. Eu devia partir... Mas eu não aceitei, não parti. 
Acompanhei a dor de minha esposa, a saudade que minhas pequenas sentiam de mim, escutei histórias de atitudes minhas e grosserias que cometia dentro de casa sem ao menos dar-me conta de tais atos... Eu também sentia saudades, eu também queria fazer parte ainda daquela família, era a MINHA família.  Eu sofria!
Passou certo tempo, não sei ao certo, eu dormia ao lado de minha esposa como de costume, mesmo ela não me vendo e não sentindo eu estava ali, aonde ela fosse eu estava junto... eu deveria protegê-la. As minhas sensações de tempo eram muitos difíceis de perceber, pois cada adormecer e despertar meu eram alguns dias, alguns meses, que haviam se passado no plano terrestre. Estava tudo indo de forma tranquila, até um dia em que acordei-me e vi sentado à mesa um homem, tomando café da manhã, recomendando atitudes de minhas filhas no colégio, e outra criança chamando minha esposa de mãe... Logo percebi, fora traído! Ela colocara outro homem em meu lugar... Eu mandava ele embora, eu dizia pra ele que ela já tinha dono, eu era o marido dela, eu existia e eu repetia aos ouvidos dele o tempo inteiro que estava ali ainda e em todo o momento... Ele passou a desconfiar dela, acreditava que ela tinha amantes, que existia outro homem no lugar dele, que ela o traía... Começaram a brigar constantemente, ele já não confiava nela, era ríspido com as meninas e por vezes com o próprio filho. Ela chorava, sofria, pedia ajuda de algum lugar, e eu estava ali, dizia que ia lhe ajudar, então ela pedia que eu olhasse por ela... Sim eu olhava sempre e todos os dias! 
No outro dia novamente eu mandava ele embora, eu dizia pra ela que aquele homem fora uma má escolha, que ele não prestava pra ela, que jamais faria ela ser feliz... Ela começou a acreditar em minhas palavras, para ela eram pensamentos quando na verdade era eu lhe dizendo, lhe soprando... para mim aquilo que eu fazia iria preservar ela, minhas filhas, minha família...
Ele fora embora, ela sofria com ausência dele, isso me machucava profundamente, ela recordava o primeiro encontro deles, as primeiras brincadeiras, as primeiras palavras, os elogios. Sentia um misto de saudade com tristeza: como poderia ele ter mudado tanto? (pensava ela)
Fiquei brabo, triste, magoado... Eu queria quebrar tudo, queria que ela visse como EU fazia falta, consegui reproduzir alguns fenômenos na casa devido minha raiva, minha brabeza... Isso fora assutador o suficiente pra que ela procurasse um auxílio espiritual... Eu atormentava ela por pensamentos, por palavras que eu dizia a fim de deixa-la culpada, e conseguia com êxito. Certo dia então ouço ela em uma terreira conversar com uma das médiuns, que não estava incorporada, mas mesmo assim por inspiração transmitia a mensagem do guia que acompanhava ela. Ela dizia que a fé levava a todos os lugares, e tanto levava que ela havia ido parar ali naquela terreira assim como a entidade que estava perturbando ela (no caso eu). Que seríamos ajudados ambos, pois não basta ajudar a matéria, o espírito precisa de socorro também... ouvi os desabafos de minha esposa com aquela mulher... Fiquei de fato chocado com tamanho mal que eu lhe causava... Ela sentia dores, fraquezas, tonturas, isso pelo simples fato de minhas energias serem diferentes das dela, por ela buscar ajuda e eu não deixar ela ficar tranquila com minhas palavras tão carregas de rancores. Me perguntei como em sussurro o que poderia eu fazer par ajudar ela, pra parar de perturbar ela... ou melhor, para onde eu iria?
Olhei os trabalhos na casa de religião, vi os espíritos se acoplando nos médiuns, alguns pelos pontos externos onde o médium mexia a parte do corpo que o guia lhe dizia, vi outros sintonizados apenas pelo chacra central, diretamente pela cabeça, os movimentos do médiuns seguiriam através de ligação direta com o sistema central espírito/material. (Fato que passei a entender depois de certo tempo já com as explicações dos mentores que hoje me auxiliam)
Também vi muitos fingindo, mas pelo bem das consultas os mentores da casa não permitiram que minha esposa passasse para consultar-se nos demais, somente nos necessários. Enquanto não saberia o que fazer tentaria não mais lhe falar nada, iria acompanhá-la, até que encontrasse o meu rumo e um sentido para minha condição. Em uma noite vi minha esposa chorar, queria perguntar porquê, queria abraçá-la, mas eu tinha me comprometido comigo mesmo a não prejudica-la. Vi então, meu avô ao lado dela. Ele disse-lhe: Reze, minha filha. Deus existe! 
Ela nesse momento sussurrou: Se Deus existe tem que me ajudar, também sou filha Dele... 
E começou a rezar, eu acompanhava sua prece e tamanha era sua devoção que eu rezei junto. Fechei meus olhos, e pedi por ela, por minhas filhas, por minha mãe e por meu pai. Também pedi por minhas irmãs, emboras essas tivessem dado continuidade as suas vidas, ainda assim faziam parte de mim.
Abri meus olhos, qual não foi minha surpresa quando percebi que não estava no lugar aonde era a minha casa... Olhei em volta, parecia-me uma escola. Sim, deparei-me com mesas e cadeiras, um espaço amplo como que para apresentações. Abri a porta da sala e não via ninguém passar. Aquilo era estranho para mim, mas não me assustava. Reparei um homem parado, parecia-me um guarda, aproximei-me e perguntei aonde eu estava. Ele me respondeu: No refúgio dos soldados! 
Perguntei aonde eu poderia falar com algum responsável, onde eu poderia ter informações. Ele mostrou-me uma porta no final de um corredor. Fui até lá.
Entrei e para minha surpresa vi minha esposa lá, ela falava com um moço jovem e alto de cabelos claros e olhos grandes. Ela olhou-me e veio em minha direção, eu sem deixar ela falar nada disse que estava sempre com ela mas que seguiria daqui pra frente. Ela chorava, e o jovem alto a acompanhou até certo ponto no qual não mais a vi. Indaguei a ele: Como explicar isso? Ele disse-me que ela havia adormecido e seu espírito teria sido carregado para uma despedida mais saudável de minha parte. Mas que logo deveria acordar e que não deveríamos prende-la no astral. Eu tinha muitas dúvidas. Queria saber como fui parar ali... O rapaz respondeu-me que minha fé levou-me para meu lugar de merecimento... eu deveria ali aprender muitas coisas, muitos valores... Amigos já falecidos, que também eram soldados quando encarnados e que muito ensinaram-me quando entrei pra essa lide de recrutas, haveriam de me receber e mais uma vez ensinar-me e conduzir-me, porém, agora no plano espiritual... Não mais posso dizer, senão que melhor maneira de redimir-me que essa, lhes contando minha história, na tentativa de transmitir-lhes força para que não desistam dessa caminhada que é a vida terrena. Façam aos seus familiares e amigos pessoas felizes... Doem o seu melhor sem esperar nada em troca... Entendam que o homem pobre é aquele que não dá valor aos bons sentimentos e à fé. Peço que eu cumpra meus objetivos espirituais. 
No tempo de vocês, fazem anos já que formulei essas palavras, mas somente hoje, foi-me permitido vir repassar tal história.
Sinto-me feliz. Hoje ainda mais, daqui a um tempo terei liberação para ver aqueles que deixei com o desencarne... Ei de suprir saudades, virei para uma breve preparação, ainda não sei ao certo para quê, mas confio naqueles que estão me conduzindo e sei que tudo o que Deus resignou para mim será cumprido e o farei com imensa alegria. 
Não se deixe abater por problemas nem por dificuldades. Não se entregue as desistências, não se deprima, não se abata... Busque sempre uma resposta, entenda sempre que os obstáculos que a vida lhe apresenta é para fortificá-lo e não para derrubá-lo. E quando você souber lidar com tais obstáculos, então estará preparado para ser um homem digno da sabedoria divina!

Me despesso desejando boas energias a todos e muita luz na caminhada espiritual e terrena de cada um de vocês!
                  
                                Mensagem de um irmão suicida"



  Peço sempre antes de minhas publicações, orientações, esclarecimentos, pergunto sobre o que escrever, peço belas mensagens e bons ensinamentos aos nossos amigos, que com muito gosto aprovam a divulgação não da nossa religião, a Umbanda, mas sim a divulgação de um trabalho tão belo e tão significante na vida de médiuns trabalhadores e simpatizantes do trabalho espiritual no nosso plano material, em um caminho que nos conduz à luz e ao aprendizado sobre tudo o que nos guarda o plano astral inviśível aos olhos de tantos. Que a mensagem que repasso hoje, seja tão bela quanto as outras aqui  já publicadas e que possamos todos aprender juntos com a humildade e sabedoria dos nossos amigos mensageiros e daqueles que, como nós, buscamos a evolução para um bem maior...

                                          Nota: Cynara Miralha